Uma história pitoresca, porém ao estilo Camus.
Vinte e três anos atrás, nos conhecemos.
Sua paixão brotou sem que eu soubesse. Sua vida seguiu sem que eu percebesse. Entre casamentos e separações, eu sobrevivi na sua mente
como “é ela”. Então, você ressurge assim, brotando da terra fértil do planalto
central, me trazendo um presente: você.
Narrou nossa história em que eu, embora protagonista,
me senti mais uma coadjuvante – não fiz nada além de existir – mesmo
inconscientemente – na sua memória.
A verdade, veja, é que tudo não passou de vida.
Não houve sinos tocando quando me viu pela primeira
vez – embora você inutilmente acreditasse ter ouvido. Era tudo coisa da sua cabeça adolescente.
As borboletas, você bem sabe que não têm como habitar nossos estômagos. Não alimente esse tipo de ilusão.
Isso tudo é somente a vida, assim, cheia de fatos que
insistimos em significar com significados inexistentes. Conjecturas de contos
de fadas que queríamos que fossem reais.
Persiste nossa tão arraigada mania de querer ver
mágica onde há vida e nossa insistente negação de que a vida por si só é
mágica, mesmo sem histórias encantadas.
Apenas grave isso com seu presente: os sinos nunca
tocaram. Nunca.
Gabriella Mochizuki de Oliveira