Há alguns dias, estive em Brasília.
O clima seco, fresco. Pra mim, bastante agradável.
Eu andava pelas calçadas dos prédios em alguma
quadra do Setor Comercial Sul.
quadra do Setor Comercial Sul.
O que eu via não me era agradável...
Pessoas caídas, desmaiadas.
Cobertores encardidos cobrindo corpos, deixando-me ver os
pés,
também encardidos.
também encardidos.
Quantos? Tantos!
E, no meio do caminho... não, não era uma pedra. Era mais um
homem.
Pude sentir seu cheiro.
Um cheiro que me murchava o corpo,
na esperança mesquinha de
não precisar inspirar novamente.
Passei rápido, assim como outros tantos casacos e ternos.
Fingi que não o vi, assim como tantas outras calças e sandálias.
Mas o vi.
E vi também algo ainda mais chocante.
Ao lado do homem caído, talvez a um metro, um casal apaixonado.
Eles se abraçavam, trocavam carícias, conversavam, riam e se
beijavam.
Ao chão, gente. A um metro de chão.
Lembro-me que, no meu tempo de criança, minha mãe puxava-me
para perto dela – e longe do ser humano caído.
Sinceramente, é compreensível.
Tudo é compreensível.
Ou melhor,
quase tudo.
Nossa pressa. Nosso tempo. Nossa impotência. Nosso
fingimento.
De nada adiantaria nem pouca, nem muita ajuda.
Nem pouca, nem muita compaixão.
Nem pouca, nem muita compaixão.
Nem pouco, nem muito amor.
Nem pouca, nem muita mão.
Nem pouca, nem muita mão.
Mas deleitar-se ao sabor do beijo do ser amado,
mergulhar na
voluptuosidade de seus corpos
a um metro de um ser humano.... ao chão?
Ah...
Mais humano me soaria se tivessem atravessado a calçada.
(Queria muito ter tirado uma foto. Não tive como. Estava
atordoada. Pensamentos, culpas.)