Ana não era como as outras mulheres. Ou era, mas José não
sabia e não tinha como saber, porque era José e não, Ana.
José gostava de sua independência. Não precisava de ninguém
para olhar por ele, para cuidar dele, fazer comida, arrumar a cama. José
sabia respirar, sonhar, rezar, gozar, pensar, comer, amar e morrer sozinho. Não
precisava de ninguém para fazer por ele ou com ele essas coisas elementares.
Precisava, sim, era de alguém que lhe fizesse o que ele e ele
não seriam capazes de fazer, nem juntos, nem sós.
Precisava de alguém para sentir seu cheiro e sentir que ele
sentiu seu cheiro também; não precisava de uma mulher para respirar ao seu
lado.
Precisava de alguém para olhar para ele e ir além da
superfície de seus olhos.
Precisava que lhe ouvisse a voz e as palavras e tudo o que,
angustiosamente, elas tentavam traduzir.
Precisava de alguém para que sua pele fosse acariciada, na
certeza de que se tocava milhões de células-José, e não apenas um aglomerado de
pele.
Precisava de alguém para sentir o frescor de seus cabelos
quando limpos e o calor, quando suados.
Um alguém que olhasse seu sorriso e enxergasse o motivo da
boca exageradamente aberta, a mudança da expressão do espírito.
Mas José tinha Ana.
E Ana sentia a lisura escorregadia dos cabelos e a pele
morna de um homem com dois olhos e uma boca, cheia de dentes.
E José iria continua precisando, e jamais conseguiria deixar
de precisar, enquanto José, porque Ana.