Tensão Pré-Menstural
Tenho uma TPM do caralh#. Uma semana antes de receber a
visita sangrenta, meus dias se nublam. São dias que não espero, mas que avisam
quando chegam. Não sabendo o porquê, me ofendo fácil, me isolo fácil, choro
fácil. Também insulto e falo o que me arrependerei, fácil.
São dias tão sui
generis, que me permito sair da dieta e me entupir de chocolate. Me permito
o sanduba gorduroso e dormir mais que deveria. Me permito dizer que estou
ocupada demais, quando só quero ficar deitada, esperando o tempo passar. Me
permito visualizar e não responder. Me permito ser filha na casa da mãe, sem
lavar meu prato, sem colocar o chinelo no canto da porta e fingindo que não é
comigo aquela bronca.
Fui ao médico e ele me disse: “Vamos tomar anticoncepcional
para controlar essa TPM. Podemos emendar uma cartela na outra para que ela nem
apareça!”
Cheguei em casa pensativa. Já fazem quase dois anos que não uso
anticoncepcional, por opção. Minha menstruação é regulada, tem dia certo pra
chegar e pra se despedir. Algo me diz que eu não devo evitá-la, com todas as
suas naturais funções, mas compreendê-la e aprender a lidar com ela.
Aprendi a anotar meus dias de tensão. Percebi que choro
mais, e por motivos diversos. Percebi, na verdade, que era o único período do
mês que eu chorava; que suporto todos os percalços, remorsos, raivas, receios,
tristezas e constrangimentos para, nesse período de extremos, deixar que minhas
lágrimas se misturem com a água do chuveiro. O banho ganha, então, outra
conotação. Sinto minha pele, minhas curvas. Concentro nos meus pontos de
prazer, muito além das zonas erógenas. Sinto o gosto das minhas lágrimas, a
textura da saliva. Me sinto.
Essa tensão, que eclode minha sensibilidade, mostra a real
dor da violência quando a sofro. Mas mostra também que sobrevivo a ela. Me
lembra da minha falta de freio e do meu potencial agressivo. Me ensina o melhor
caminho, quando os sentidos estiverem confusos ou intensos: afasta e cala.
Nos meus dias de tensão, quando tudo perde o sentido, procuro Deus, que muitas vezes havia esquecido. Converso com ele e solto minha revolta. Ficamos juntos até adormecer, mesmo sem respostas.
Me sinto só, porque ninguém – ninguém – se sente como eu, naqueles dias. Apenas eu, no mundo inteiro, me sinto num poço isolado, escuro e frio. E se há mais mulheres na mesma situação, estão tão isoladas em seus próprios poços, que continuo certa ao dizer da minha unicidade nesse breu. É então que aprendo a segurar na minha própria mão.
São nesses dias, também, que bate a saudade e a carência de
tudo. De vida, de pele, de alma. Carência de Deus, de mãe, de pai, de irmão. Carência
de amor, de carne, de paixão. Me concentro em cada pessoa que me visita a mente
e percebo o quanto suas vidas são suas, e não minhas. Percebo que enquanto
estou nesse escuro, cada um está respirando seu próprio ar, fazendo seu próprio
trabalho, reclamando seus próprios direitos, lutando com seus próprios
adversários. Percebo o quanto o contato, o carinho e a presença são
gratuitamente caros, raros. Percebo que um abraço dado naquele amor deveria
nunca acabar. Percebo que meu coração se mantém ligado aos corações dos meus
pais, apesar de tudo isso. E particularmente pra mim, que tenho filhos, são
nesses momentos de tensão que sinto o calor de cada um deles, a textura da pele
e o cheiro do cabelo.
Nesses momentos de tensão, aprendo a sentir com mais
sentido, a amar com mais amor, a lembrar com mais ternura, a lidar com mais
respeito. Essa tensão nada mais é que a natureza, nos lembrando de quem somos! Aceitá-la,
parece, é aceitar a mim mesma.
(frô)