Acordei com uma baita dor nas costas, filhos pré-adolescente mal humorados e o caçula parecendo um pequeno, doce e inofensivo zumbi.
O leite saboreado na noite anterior dormiu fora da geladeira e hoje já não prestava. A culpa de ter me esquecido de reabastecer a despensa me corroía.
A música do carro resolveu não tocar, promovendo um pesado silêncio, esse sim, tocando fundo em nossas almas de faces pálidas, a caminho da escola.
No derradeiro semáforo antes da chegada, um imigrante magricelo fazia malabarismo com nada menos, senhoras e senhores, que três claves gigantescas e uma bola de futebol!
Jogava pra ca, jogava pra lá... Bola na testa, no pé, na nuca, na testa de novo e as claves milagrosamente em sintonia, bailando no ar.
Minha atenção, que não é besta nem nada, foi desviada para aquele artista a derreter de suor no meio da rua. Eram exatamente sete horas e doze minutos e sim, o sol já judiava na capital mais quente do país tropical.
Chamei a atenção dos meus filhos, que logo soltaram sonoros "urra!" seguidos de "caraaaaaca!" e, por fim, vários e vários sorrisos. De todos nós. Todos, mesmo.
Procurei dinheiro mas eu havia saído com pressa e não levara a carteira. Sorri para o malabarista, pedi sinceras desculpas por não ter, àquela hora, um tostão no bolso. Ele sorriu de volta e me disse "Tudo bem! Tenha um ótimo dia!".
E foi assim que o imigrante magro e suado, o artista de rua talentoso que madrugou no sinaleiro buscando seu faz-me-rir, me doou meu próprio sorriso e o portal para um dia especialmente bom!
Quanto ao preço do meu sorriso... hoje saiu de graça, graças à caridade do senhor malabarista!
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