Quando o produzia dentro de mim, lia
relatos de partos em que as mamães diziam “foi amor a primeira
vista!” e esperava, ansiosa, sua chegada!
No dia e hora marcados – sim, você
foi pontual, por incrível que pareça! Hahá! – lá estava meu
garoto, grande, lindo! Fiquei olhando pra você, esperando os sinos
tocarem dentro do meu coração, mas nada. Não sentia qualquer coisa
que se assemelhasse a aquilo descrito como amor a primeira vista, tão
relatado. Haveria algo de errado comigo?
As enfermeiras deram o primeiro banho
e o colocaram no meu peito. Você sugou, com força e deleite. As
mãos tão pequenas, os olhinhos puxados.
Na primeira noite, você acordava e eu
o acolhia. Não sei exatamente quem estava mais assustado, eu ou
você. Acontece que, daquele momento em diante, não bastasse eu
tê-lo, literalmente, feito, agora o sustentava por um produto meu, o
leite. A dependência era tanta, que os limites de nossos corpos pareciam se cnfundir, mesmo
depois da segregação.
E o alimentar, o limpar, o acariciar
foi trazendo um sentimento diferente de absolutamente tudo que eu
conhecia. Até então, eu imaginava que essa dependência significava
que você precisaria de mim, também, para aprender o mundo. Grande
inocência, a minha! Você, me dando a primeira lição.
Em 2008, chegou um loirinho magrelo
buscando um espaço na nossa casa. Foram dias difíceis. Chorei
muito, porque ele não me aceitava como mãe, não nos aceitava como
família. Era complexo demais pra ele, mergulhado em sua própria
realidade. Era complexo demais pra mim, mergulhada em minha própria
insignificância. Foi então que, no segundo dia, desisti.
Não mais suportava o desprezo. Não
mais suportava o desespero. Não mais suportava a derrota, minha
realidade, minha pequenez, minha incapacidade, minha fraqueza. O
loirinho iria para outro canto, não para o nosso.
Entrei no carro, decidida a não mais
voltar. Você ficou quietinho, no banco traseiro, me vendo chorar.
Parecia preocupado comigo, mas não. Do seu jeito lindo, com sua
vozinha abençoada, disse: “Mamãe, cadê meu irmãozinho?
Côitadinho! Ele tá lá, sózinho! Vamo lá buxcá meu irmãozinho!”
Olhei pra você e percebi que, enquanto eu me lamentava, enquanto eu
pensava na desistência, enquanto eu me encolhia, você já havia
resolvido as nossas vidas. Você foi o primeiro a adotar seu irmão.
Depois disso, compreendi que o
aprendiz, na história, era, sempre fui e sempre serei eu.
Você, meu pequeno grande homem, não
tem ideia de minhas lutas internas, de meus pensamentos, anseios,
meus pesadelos. Não tem ideia dos meus sentimentos, dúvidas e
angústias... muitos deles fundados em você, em vocês! “Só coisa
ruim!”, há de pensar o desatento. Na verdade, só luz.
É no questionamento que encontramos a
resposta. É na dor que encontramos o alívio. É na dúvida que
encontramos a certeza.
É pelos meus três tesouros que
todas, absolutamente todas as minhas dores, feridas, suores e
lágrimas, sejam elas reais ou imaginárias, são doces, são flores, são mar, brisa e ar. E graças,
especificamente, a você, são sóis.
Obrigada por me ensinar tanto, por me
aceitar como aprendiz, por me tornar produto seu.
(frô - mamãe)
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