quarta-feira, 2 de maio de 2018

Sonho























[Sonho]

Eu vomitei um astrolábio.

Nas palmas de minhas mãos, 
Imenso, reluzente, ele jazia.

Não sei o que tramava,
Indigesto, inútil,
Dentro de mim.
Era grito pras entranhas surdas,
Verso pras analfabetas sensações,
Seta pros meus órgãos cegos,
Conversa pro meu sangue mudo.

E eu, privada dos sentidos,
afogada em incertezas,
Persistindo na decisão tomada
Tomando goles e mais goles de amarguezas. 
Tomada pela certeza fria
Do erro que me entorpecia,
Ruminando e me acostumando
Feito gado no pasto;
Aguardando,  sem saber, sabendo,
Acovardada, acomodada, amedrontada,
Uma felicidade que viria
Mal eu sabia, só com o pó.

Mas aqui dentro?
Por que foi que engoli essa porcaria?
Quando? Como?
De que é que eu fugia?
Recebi esse astrolábio justamente
Pra evitar a perda de tempo
Nas idéias erradas da vida
Nas flores belas fingidas
Nos casebres charmosamente sem teto.
Ele vinha pra lembrar
Que onde não florescer,
Não se deve quedar.

Coração é iletrado, não tem nada
Que ver com astrolábio. 
Coração canta, mas tem que cantar baixinho
Pra não atrapalhar o que se tem que pensar.
Agora, em minhas mãos, retomo a trilha
Tomo garrafadas de persistência,
Coragem e paciência
Pra não desistir no caminho
Até lugares onde eu possa sentir
Onde não precise insistir
Onde simplesmente
Eu mesma seja lar. 

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