"Então começou a pensar que na verdade rezara. Ela não.
Alguma coisa mais do que ela, de que já não tinha
consciência, rezara. Mas não queria orar, repetiu-se mais
uma vez fracamente. Não queria porque sabia que esse seria
o remédio. Mas um remédio como a morfina que adormece
qualquer espécie de dor. Como a morfina de que se precisa
cada vez mais de maiores doses para senti-la. Não, ainda não
estava tão esgotada que desejasse covardemente rezar em vez
de descobrir a dor, de sofrê-la, de possuí-la integralmente
para conhecer todos os seus mistérios. E mesmo se rezasse...
Terminaria num convento, porque para sua fome quase toda
a morfina seria pouca. E isto seria a degradação final, o vício.
No entanto, por um caminho natural, se não buscasse um
deus exterior terminaria por endeusar-se, por explorar sua
própria dor, amando seu passado, buscando refúgio e calor
em seus próprios pensamentos, então já nascidos com uma
vontade de obra de arte e depois servindo de alimento velho
nos períodos estéreis. Havia o perigo de se estabelecer no sofrimento
e organizar-se dentro dele, o que seria um vício
também e um calmante. (...)"
Perto do Coração Selvagem - CL
Encontrar estabilidade em seus próprios medos...
ResponderExcluirSinto grande afinidade com estas coisas que falam de rezar... creio que você também! Temos algumas coisas em comum.
ResponderExcluirP.S.: sobre o VOCÊ, a história de oitocentas páginas não acabou, continua. Só Deus sabe o final.