quarta-feira, 25 de agosto de 2010

psssssssssss....


- Eu decidi que vai ser assim. Ajo sempre pelos meus ideais. Calculo, manipulo atos pelas minhas escolhas...
- Flor, Flor...
- Sério! A vida é minha e eu decido o que vai ser dela!
- Florzinha...
- Que foi? Duvida? Pois que sempre foi assim! Toda a minha vida aconteceu exatamente como EU decidi...
- Acontece, Flor... que flor que é flor não decide nada... flor que é flor -- e você é, tão comum como qualquer outra -- sem sol, murcha. Sem terra, cai. Sem água, seca. E sem sonhos...
- Nao tenho sonhos, graças a Deus! Tenho planos que, como falou, é pra quem tem terra e não asas!
- ... e sem sonhos, flor não fala...
- (...)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010



"Sinto um desejo imenso de auto-corrosão
e não me apetece refutar idéias.
O gosto amargo, amarelado, da dor,
me aquece
e finjo ser carne,
quando nada mais sou
que plástico."
(frô)

Me morro nas palavras e isso quase que me basta.. (frô)




quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Transtorno


O transtorno me dá um prazer único
De tornar único cada fato e cada momento.
Eles ficam registrados no meu livro-da-vida,
Mas na memória se perdem como células soltas
Que compõem meu corpo, porém sem nenhuma
Ligação nítida entre elas.

Hoje me são.
Amanhã podem me ser, ou não.
E a meia-noite não existe.

Não me perder nesse contexto é mistério
Que venho desvendando depois dos vinte e cinco.
Necessário entender de que matéria
É feita minha membrana
E como funcionam meus órgãos vitais
E também quais deles são inúteis a ponto
De desmerecerem ocupar em mim.

Ontem existiu
Nasceu e morreu e (se) viveu
Não-sei-quê.

Quando compreendo os tamanhos de meus poros,
Aprendo a velocidade máxima permitida
De movimento de minhas células
Do tanto certo para suportar a pressão
E o calor e a idade
De dentro e de fora e de mim mesma.

O transtorno me transforma,
Me faz melhor-pior.
Me faz.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

sob(re) dar

dou...
porque
quanto menos
de mim em mim,
mais vida.

(fro)

domingo, 1 de agosto de 2010

(pra mim) sobre escapes...

"Então começou a pensar que na verdade rezara. Ela não.
Alguma coisa mais do que ela, de que já não tinha
consciência, rezara. Mas não queria orar, repetiu-se mais
uma vez fracamente. Não queria porque sabia que esse seria
o remédio. Mas um remédio como a morfina que adormece
qualquer espécie de dor. Como a morfina de que se precisa
cada vez mais de maiores doses para senti-la. Não, ainda não
estava tão esgotada que desejasse covardemente rezar em vez
de descobrir a dor, de sofrê-la, de possuí-la integralmente
para conhecer todos os seus mistérios. E mesmo se rezasse...
Terminaria num convento, porque para sua fome quase toda
a morfina seria pouca. E isto seria a degradação final, o vício.
No entanto, por um caminho natural, se não buscasse um
deus exterior terminaria por endeusar-se, por explorar sua
própria dor, amando seu passado, buscando refúgio e calor
em seus próprios pensamentos, então já nascidos com uma
vontade de obra de arte e depois servindo de alimento velho
nos períodos estéreis. Havia o perigo de se estabelecer no sofrimento
e organizar-se dentro dele, o que seria um vício
também e um calmante. (...)"
Perto do Coração Selvagem - CL