terça-feira, 26 de maio de 2020

Eu amo demais.
É isso. Saiu assim, como um clarão no meio dos pensamentos da madrugada.
Entre memórias, sonhos e reflexões, senti o "a-há" a ponto de eclodir do fundo da minha garganta. Mas me contive. O horário não comportava tamanha emoção. Fiquei ali, com o pensamento preso. Então era isso. Eu amo demais.
Amo gentes que nem sabem que eu existo. Amo gentes assim, em mão única, e me sinto bem feliz com isso. Acho graça de quando as palavras de elogios deslizam suavemente pelos meus lábios, palavras sinceras que expressam meus sentimentos, e o outro fica me olhando com cara de paisagem, como se se sentisse constrangido porque não pode e nem quer falar "eu também".
Na verdade, o outro realmente se sente, em regra, constrangido.
Então eu sinto, sinto muito por ter deixado fluir palavras tão densas assim, sem que o outro pudesse devolvê-las no mesmo tom.
Mas faço o que, se amo mesmo? E faço o que, se meu amor é assim, um tiro reto, sem espera de resposta!? E faço o que se mesmo as respostas que espero, espero-as assim, sem vigilância?

domingo, 3 de maio de 2020

Tuas mãos no meu pescoço, apertando a carne estranhamente me ligava à minha natureza mais hostil. Não havia medo ou insegurança, mas entrega. Quanto mais a palma da tua mão tomava coragem para agarrar a minha pele fina, mais eu entrava em contato comigo mesma, com uma vulnerabilidade estranhamente desejada. Você, num primeiro momento, estranhou e se conteve. Precisou de alguns claros pedidos em gesto para tomar coragem e se entregar ao sentido mais primitivo que pulsava no teu sangue. Olhos cravados no espelho, como tuas mãos na minha carne, largando o pescoço e sentindo cada centímetro do meu colo. Meus seios já não eram mais importantes do que o resto do meu corpo, que pulsava ferozmente numa névoa libidinosa insaciável. Meus ombros eram tão eróticos quanto meu feminino mais íntimo. Meu pescoço, tão saboroso quanto meus mamilos. Eu era, da ponta dos pés aos fios de cabelo, toda energia, toda sexo, toda desejo. Enquanto tu, senhor daquele espaço, era tudo o que quisesse ser.