quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Mas suas mãos... mãos suas!

Meu corpo, tão menor que o seu,
Se aproxima e se encaixa.
Incompreensível tenacidade
Entre dois corpos tão distintos!

E cada parte do meu
Busca tocar o seu,
sem que mesmo eu,
queira.

Os desejos agem por nós
Ou talvez as almas afins
Ou talvez algo cá dentro
Ainda assim inexplicável.

Meus olhos procuram os seus
Porque ali há instinto e vontade.
E se há vontade e há instinto também,
Há verdade.

É quando você parece se desconectar
do mundo, da vida, do resto, de tudo.
E seus olhos se fixam na parede, sua boca
Se tensiona e seu rosto se vira pro céu.

É quando eu tenho a certeza de que
Você sabe muito bem
onde, como, porque
E com quem está.

Intuo, nesse instante de faíscas,
Que existe sim diálogo
entre nossos corpos - não é ilusão.
E eu te peço, baixinho, fala!

E teu corpo me responde
Latejando de prazer
Num instante eterno
E sinto, no meu, um enfervecer.

Observo, silenciosa, e percebo
Que o seu, o nosso silêncio...
É só minha carne
conversando com a sua.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018


Vamos, sente-se aqui.
Deixe eu deixar claras algumas coisas.

Se quiser me dar a sua mão, a recebo.
Mas jamais vai deixar eu te deixar.

Recebo sua mão, mas não prometo felicidade.
Não prometo eternidade.
Não prometo dias de sol.
Não prometo beijos infindáveis,
Nem tampouco sexo selvagem.
Não te prometo, principalmente, certezas que,
Por sua própria natureza, são incertas.

Prometo, sim, não prometer muito.
Prometo dias reais, com pão e café.
Te prometo, também, cerveja e chocolate!
Te prometo noites que terminam
E também sonos seguros,
Envoltos em minha pele.
Prometo beijos densos – todos.

Prometo que jamais te tocarei sem vontade.
Prometo sexo confortável,
daqueles que podiam nunca findar e,
nos dias mais especiais
prometo sexo, sexo mesmo,
saciando suas,
nossas vontades.

Te prometo liberdades trocadas.
Promessas trocadas.
Sonhos trocados.
Cheiros trocados.
Mas cada um com o seu.
Prometo não me perder em você
E prometo que não se perderá em mim.

Prometo ser caminho, mesmo que não
Leve a nada, mas que seja leve.
Prometo parceria, ombro, colo,
Prometo minha mão.
Prometo versos e cartas.
E prometo também saliva, suor,
Fluidos e brincadeiras inesperadas.

Te prometo – ah, prometo! – questionamentos.
Questionamentos que o farão se perder
Mesmo em suas mais arraigadas certezas.
Questionamentos que trarão dúvidas, 
Que incomodarão o íntimo do seu ser,
Que o farão me acordar de madrugada
Pra terminar a conversa que jamais acaba.

E vamos, então, cair no sono juntos,
Com nossas carnes recolhidas, uma na outra,
sem nos importarem as respostas.
Mas antes do sono último – aquele profundo final,
Eu prometo que meus olhos aguardarão os seus.
Juntos, então, reencontraremos – a nós mesmos,
Antes de ir.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Engano - quem nunca?

Seus olhos
pararam nos meus, senti

Seus poros,
seus pelos,
Seus dedos
Nos meus, enroscados.
Sempre, dizia.

Seu corpo esguio,
rabiscado no meu.

Sua boca
na minha
pressa, fome,
calor, tensão.
Insaciável seria, sabia.

Entrelaçadas mentes,
as almas, pareciam.

Muda o tempo, passa.
Mundo que gira.
O ano que corre,
e mais um
e um mais.

Eu, errada, 
enganada, cega. 

Percebo, em fim,
as cores reais, banais.
Perfume barato, 
reles, mortal.
Eloquência, carência.

Vale de gentes,
mais gentes, final.

(plenamente) saciada,
de você,
quero não mais,
nem corpo, nem boca, nem mãos.
Menos ainda, alma.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Carta para Luis








Querido Luis,

Venho pedir-te desculpas por algo que ainda farei. Maldito aquele que ousa pecar, conhecendo a natureza pecaminosa do ato que ainda será praticado, e ainda assim, o faz.

Sei que te entristeço, Luis. Mas é afim de evitar piores cenas que me adianto.

Teus olhos trazem-me a lembrança da calmaria, das águas tranquilas das praias do nosso sudeste, traduzindo o ideal do mar sem onda que reflete o Sol.

Amo cada palavra que sai de teus olhos quando me fitam e também a luz dos teus lábios quando me beijam. Amo teu sorriso, aliás! Ah, amo, sim! Seu toque suave me acariciando, cheio de vontades de se aprofundar!

Lembro-me de quando acordava nas manhãs mornas e olhava-te quieto, sereno. Estavas tão feliz e calmo, enquanto eu encarava o mundo, querendo mais. E tu, que não me entendias, achavas graça. E eu, que te assistia, achava graça de tu achando graça, Luis, mas lá no fundo, me sentia triste e sozinha. Tu não compartilhavas da minha angústia. Quiçá a enxergava.

Recordas-te do dia em que assistimos ao espetáculo de circo aberto? Tu pegaste-me as mãos. Abraçaste-me carinhosamente, lembras? Naquele momento, vi nos teus olhos seu desejo de permanecer, mas vi também que éramos deveras diferentes. Amavas minha companhia, meu eu, meu tudo que acreditava ser. Sentamo-nos e deixamos nossas mãos entrelaçadas. Fitei-as várias vezes, decifrando nossos dedos. Minha inquietude não se harmonizava com sua paz. Corri, lembras? Não com meus pés, mas com minha mente.

Corri e ainda corro de ti, que parece ser atraído por mim, esteja onde eu estiver e seja lá quem fores. E nessa carta, tento mais uma vez te explicar!

Hoje te reencontrei, Luís. Depois de quase duas décadas, te reencontrei. Tua história tomou o rumo que já imaginávamos: uma vida incrivelmente correta. Te invejei, viu? Invejei quem vive em tua companhia, quem tem teus cuidados, quem cuida de ti. Invejei tua paz e tua harmonia. Deve ser tão bom dormir com teu beijo de boa noite e acordar com teu sorriso de bom dia!

Ah, Luis! Se eu soubesse, teria feito tudo diferente. Se eu soubesse que assim seria e se eu soubesse fazer, aliás. Ainda em nossa adolescência, teria me acalmado e ficado. Em verdade, teria tentado. Mas nós dois sabemos – como conversamos outrora, que não teríamos conseguido. Pedi desculpas por ser que sou e me disseste, com tua paz celeste, que se eu fosse calmaria como tu, nunca terias te encantado. Vivendo apenas alguns meses juntos, duramos uma vida inteira em nossos corações. Tomamos a melhor decisão, não foi?

Ah, perdoa-me, Luis! Não falo de ti, exatamente. Vês a confusão? Queria muito!

Queria muito permanecer ao teu lado e navegar pelas águas tranquilas do teu coração, mas nos afogaríamos nelas, cedo ou tarde. Percebes que eu cometeria o mesmo erro?

Não posso ancorar-me em ti.

Perdoa minha audácia em pressentir nossa catástrofe a esmo. Posso não saber como será, mas sei já como sou.

Quando me abraçavas docemente, Luis, tenho que te contar, eu sentia minha carne gritar. Correspondia ao teu sorriso, mas sentia no fundo de mim, um pesar. Tua cama era prisão e teus sonhos não eram meus. Ano após ano, esperei ansiosamente pela oportunidade de fugir. Até que consegui.

Perdoa-me, mas quero não mais errar.

Hoje, me reapareces! Não desistes, Luis? Meu peito se enche de esperanças e minha alma sorri ao te (re)ver. Minhas células já conversam com as tuas e me mostram o caminho a seguir, segurando tuas mãos! Mas me falta ar, entende? Essas células engoliram contos de fadas e ainda insistem em acreditar que apenas o outro nos completará – tolices que aprendi a superar. Não percebem que somos todos perfeitos em nossas imperfeições?

Após anos, aprendi a aceitá-lo, na imensidão do mundo. Aprendi a respeitá-lo, estável e lisonjeiro. Espelhei-me em ti. Amei teu jeito, teu juízo, teus defeitos. Mas, meu amor, eu ainda existia em mim e amá-lo e respeitá-lo não me fazia ser tu. Aceitando-te assim, lindo como és, como parte de mim, guerreava com minha própria paz de turbilhão. Sim, existem estados de paz que são naturalmente agitados. O meu é assim. Mal caibo em mim!

Minha intensidade não me doa felicidade assim, de graça. Tenho que sentir meu coração pulsar, e não somente bater compassadamente. Se está harmoniosamente ritmado, então eu me amorno, me acomodo e vou sobrevivendo, sem vida. Ah, Luis, foram tantos anos pra conhecer esse pouquinho de mim! Tenho que me respeitar!

Preciso do meu peito tamborilando, com águas profundas de trégua alternadas com ondas intensas, em que minha pressão arterial chega aos céus pelas energias que atravessam minhas veias. Tu não precisas disso – evita.

Dizem que no final, se acostuma e se aprende a amar. Amar não só o objeto – porque te amo, de verdade – mas amar o verbo, o estar ao lado, o viver junto, a cumplicidade, a parceria, a unidade (também em verbos). Mas, Luis, não quero me acostumar, nem aprender a te sentir ou a me satisfazer com tua brisa. Sou fogo, meu amor, e fogo só se acalma, sem morrer, com fogo.

Fizemos uma vida, meu querido. Linda vida, feita de nós, por nós. Pensávamos que nos uniria, aquela vida. Que seria a ponte do diálogo que nao tínhamos - não porque não conversávamos, mas porque eram línguas diferentes, as nossas. Podemos dizer que tentamos, Luis. Entenda e aceita. Vá e não volte mais.

Passa, Luis. Passa e me deixa ficar. Não me procures mais, disfarçando-te em outros olhos. Não sou como acreditas. A calmaria que vês em mim, em verdade, é conquista diária. Esse equilíbrio que te atrai é fruto de muito, muito suor. Não sou eu; é o que me proponho ser. Por isso, de tempos em tempos, meu querido, mergulho em mim mesma, em minhas profundezas mais angustiantes e atormentadas do meu ser. É quando me fecho e teu toque me dá repulsa. Sinto, nesses momentos, que estou em mar aberto em plena terra firme que és. Estes momentos não são poucos, meu amor. Sou triste, então.

Tomarei outro rumo, mudarei de calçada. O que preciso, tu não tens – graças a Deus, agradeça também! Essa incontinência, essa insensatez que me move, tu não tens. E não me compreenderias, infelicitando-te dia após dia.

Ancorar em tuas calmas águas seria trazer para tua praia, enchente. Tu não suportarias, ou suportarias chorando todos os dias. E eu, que teria permitido tudo conscientemente, choraria ainda mais, culpada. Na turbidez de minhas águas, eu certamente me afogaria, te afogando comigo.

Tu combinas com vida linda, perene e equilibrada. Viverás cada dia com a graça da rotina, sem tremores nem temores. Terás outros filhos lindos, Luis. Terás um casamento dos sonhos, com uma pessoa tão certa quanto tu, e não tão fora da curva, como eu. Serás feliz pelo simples acordar. Não sei somente sobreviver e isso você faz, magistralmente.

Eu queria ser assim, sabe? Queria, mesmo! Juro! Eu queria ser mais amena, mais conformada, satisfeita. E minhas buscas se findariam em ti!

Me sentarei nesse cais e meditarei, Luis. Se nenhuma onda me arrastar, aqui permanecerei até o dia último, ainda que só. Esse é o compromisso que firmei comigo, depois do último naufrágio: nunca mais cair na deliciosa tentação de me ancorar. Essa é minha natureza: viver em alto mar.

Se um dia – queira Deus! – eu reconhecer em alguém igual energia minha, acredito que ele também me reconhecerá e, mesmo que embaixo duma tempestade, viveremos uma real sinergia.

Nos daremos as mãos e sairemos a conquistar não só os mares que se nos apresentarem, como os céus e as terras também.

Navegaremos, juntos, numa busca incessante pelo inalcançável, que é a vida em sua mais perfeita plenitude, resumindo seu sentido no próprio navegar.

Te tranquiliza, meu caro! Pacifica teus desejos. Exercita tua paciência e espera o certo. No final, a gente sempre sobrevive!

Acontece, Luis, que meu destino é viver!