segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Um tempo


Preciso de um tempo pra mascar chiclete, pra chupar bala. Preciso de um dia inteiro só pra fazer alguma coisa que gosto, sozinha. Preciso de um tempo pra inventar moda na cozinha. Preciso de um tempo pra respirar e ficar pensando em como estou inspirando e expirando. Preciso de um tempo pra sentir o cheiro do café e do bife acebolado. Preciso de um tempo pra ouvir uma música nova e também uma música velha. Ver um filme água-com-açúcar que não me acrescente em nada. Preciso de um tempo pra fazer coisas irrelevantes, que não signifiquem ganhar ou ir em busca de ganhar dinheiro. Preciso de um tempo sem criar filhos e sem ser filho. Um tempo pra dormir sozinha e acordar sozinha de madrugada e de manhã cedinho. Também no meio da tarde. Preciso de um tempo pra curtir aquela dorzinha de cabeça lá longe, que chega quando a gente dorme demais ou fica de ressaca. Preciso de um tempo pra beber. Suco, refrigerante, cerveja, vinho, vodca. Preciso de um tempo pra beber água e pra beber suor. Preciso de um tempo pra fazer amor e pra dar amor, de graça. Preciso de um tempo pra ganhar amor, também de graça. Pra sonhar, planejar, realizar. Tempo pra gritar e pra ficar em silêncio. Chorar e rezar. Preciso de um tempo pra me desconstruir e pra me reconstruir. Preciso de um tempo pra mim.

domingo, 15 de dezembro de 2013



Eu tenho ido, sempre, conforme dá, nem sempre conforme quero. Nessa pausa da vida - seis meses que se foram e mais seis, que ainda espero chegar - ganhei a dádiva do retorno às mais importantes bifurcações dos meus ares e tenho podido enveredar pelos mistérios que eu queria, mas não fui. 

Nessa experiência - mágica, talvez - tenho visto brilhos que não enxergava, falhas que não reparava, frestas incríveis. Sigo caminhos que não optei outrora e que agora me são possíveis. 

Contudo, vejo hoje que não sou boa condutora. 

Vejo que fui  feliz quando a vida me tirou o livre-arbítrio, em alguns momentos. 

No coração, se seguisse o caminho que eu desejava teria me perdido. Na profissão, idem. Nos sonhos, idem. Nas amizades, idem. E vejo, por fim, que tudo o q saiu do meu controle foi melhor pra mim.  Meus planos teriam dado errado, noutras palavras. 

Hoje sinto que já fui e estou voltando - não para o mesmo lugar, mas para a mesma estrada, feliz pela oportunidade dos retornos e dos novos contornos, nem tão novos assim.
 (frô)

Quando penso em você, sinto medo. E quando conversamos, é quase um pavor. Acho que esse medo vem à superfície, sempre, quando você.

E se eu não gostar… Não suportar seu cheiro, sentir seu gosto como algo amargo? E se eu segurar sua mão e senti-la fria? Se eu abraçar teu corpo e sentir repulsa? E se seus cabelos não suportarem o toque dos meus dedos? Se sua pele não gostar dos meus afagos?

E se meu cheiro lhe parecer estranho? Se minha carne se derreter em contato coma sua? Se meus pêlos não se arrepiarem e os seus, na minha saliva se afogarem? Se meu sorriso te parecer torto e minha boca der angustia no teu corpo?
Mas esses medos.. sei lá... não são meus.

Meus medos são contrários, contraditórios...
E se eu gostar de você e você gostar de mim, simples assim? Se nossos cheiros se acasalarem, nossos gostos se combinarem, nossos toques se degustarem?  Se nossos olhares souberem que estamos juntos, sem olhar? Se nossas almas dispensarem provas e nossos lábios,  mapas? E se tivermos a certeza do fim de toda a busca? Disso, tenho medo.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013


"Amor, apaga a luz e tranca a gente na memória do lado que se perde."(frô)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013



Há dois mundos no mundo:
um dentro e outro, fora de nós.
Ainda pequena me encantava
com histórias dos mundos de lá de longe.
Queria morar neles, sentir o cheiro,  o clima, os ares.
Adulta, não conheci os mundos outros.
Não senti cheiros nem gostos.
Não senti ares, nem mares, nem bares.
Embora lamente, ainda posso.
Mas antes dos mundos alheios
Necessário reconhecer
O mundo dentro, esse meu e só meu...
Talvez infelizmente tão só... meu... demais...
Conheço-o desde pequena, mas não reconheço.
Me perco, me escondo, me afogo.
Me acho, me grito e me calo.
Me acalmo, embora...
E agora, grandona, tão dona do meu nariz,
Consigo dizer contente e aliviada:
Meu mundo de dentro é lindo!
E assim, como se nada abalada estivesse,
Com um sorriso na testa brilhosa a verniz,
Lanço um discreto olhar,
Desafiando o mundo que quer ser meu par,
E lhe conto um segredo baixinho:
Sua hora já era... sou plena sozinha
aqui dentro...
... pena, que fora,
fui quase, por um triz.

(frô)