terça-feira, 20 de novembro de 2018

Pra você NUNCA MAIS SE ESQUECER:

"Funciona da seguinte maneira. Imaginemos um buffê com creme chantilly, salmão, rosquinhas, rosbife, salada de frutas, panquecas com molho, arroz, curry, iogurte e muitos, muitos outros quitutes colocados em mesa após mesa. Imaginemos que examinamos tudo e vemos algumas coisas que nos agradam. Podemos comentar com nossos botões, "Ah! Eu realmente gostaria de comer um pouco daquilo, e disso aqui, e um pouco mais daquele outro prato".

Alguns homens e mulheres tomam todas as decisões da vida dessa forma. Existe ao nosso redor um universo que acena constantemente, que se insinua nas nossas vidas, despertando e criando o apetite onde antes havia pouco ou nenhum. Nesse tipo de escolha, optamos por algo só porque aconteceu de ele estar debaixo do nosso nariz, naquele exato momento. Não é necessariamente o que queremos, mas é interessante; e, quanto mais examinamos, mais irresistível ele nos parece.

Quando estamos ligados ao self instintivo, à alma do feminino que é natural e selvagem, em vez de examinar o que por acaso esteja em exibição, dizemos a nós mesmas: "estou com fome de quê?" Sem olha para nada no mundo externo, nos voltamos para dentro e perguntamos: "Do que sinto falta? O que desejo agora?" Perguntas alternativas seriam: "Anseio por ter o quê? Estou morrendo de vontade do quê?" E a resposta constuma vir rápido. "Ah, acho que quero... na verdade o que seria muito gostoso, um pouco disso e daquilo... ah, é isso o que eu quero."

Isso está no buffê? Talvez sim, talvez não. Na maioria dos casos, provavelmente não. Teremos de ir à sua procura por algum tempo, às vezes por muito tempo. No final, porém, iremos encontrar o que procuramos e ficaremos felizes por termos feito sondagens acerca dos nossos anseios mais profundos.

Essa discriminação que Vasalisa aprende ao separar sementes de papoula do estrume e milho mofado do milho são é uma das lições mais difíceis de aprender, já que ela exige ânimo, determinação e dedicação, e muitas vezes implica esperar pelo que se quer. Em nenhuma outra atividade isso fica mais nítido do que na escolha de parceiros e companheiros. Um companheiro não pode ser escolhido como num buffê. O companheiro deve ser escolhido pelo profundo anseio da alma. Escolher só porque algo apetitoso está à sua frente não irá satisfazer nunca a fome do Self da alma. É para isso que serve a intuição. Ela é a mensageira da alma."

Clarissa Pinkola Estés - Mulheres que Correm com os Lobos

quinta-feira, 15 de novembro de 2018


quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Teoria dos baldes de bolinhas (rs)

Existe uma piscina gigante. Nessa piscina, há uma quantidade infinita de bolinhas de diversas cores e tamanhos. Dentro delas, existe uma energia, que pode ser de diversos tipos. Por meio dessas energias, as bolinhas se ligam entre si de forma invisível, formando redes por afinidade energética. Ocorrendo essas ligações, as bolinhas tendem a se aproximar umas com as outras, atingindo um patamar de união tão forte que são atiradas a uma camada destacada da piscina. Desse destacamento formam-se  agrupamentos, como baldes imaginários, com bolinhas energeticamente afins.

Durante a vida, é comum que pessoas se identifiquem umas com as outras. Alguns grupos, porém, são mais facilmente reconhecidos, embora esse reconhecimento costume ocorrer entre eles mesmos.

Por não estarmos sozinhos - embora nos sintamos - é que nos unimos inconscientemente.

Acontece que demoramos a entender e a aceitar que somos diferentes uns dos outros e que poderíamos, sim, ser classificados em subespécies, de acordo com nossas vibrações - o que se traduziria em nossos pensamentos, anseios, ideias e ideologias.

Assim, ainda em tenra idade, numa tentativa equivocada de negar essa singularidade, nos ligamos afetivamente a pessoas cujas energias apenas se parecem com as nossas, mas não são afins. Seria como tentar unir a água ao óleo: embora semelhantes, a união é basicamente impossível.

Não temos paciência para maturarmos o suficiente para compreendermos essa teoria, para aceitá-la e, principalmente, para entrarmos num balde desses e, dentro dele, escolhermos um parceiro a nos unir.

Foi assim que, por duas vezes na mesma vida, me uni a pessoas com essências diferentes da minha e não suportei o diálogo solitário durante tantos anos, optando por me responsabilizar por todas as consequências da separação.

Se é fácil? Obviamente não. Mas talvez não seja mais difícil do que seria suportar a solidão de estar só, acompanhada.

A dica extraída da teoria: identifique seu balde, conheça pessoas de dentro dele e escolha relacionar-se mais intimamente com elas.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018


É que o momento é delicado. Dizem que tem a ver com mercúrio em uma situação retrógrada ou qualquer coisa parecida. Então muitos assuntos antigos resolveram voltar à tona nesse período. Até uma amiga que deixou de ser amiga há anos resolveu reaparecer.
E pra mim, que tenho dois casamentos no passado, esse tal mercúrio não deixou barato. Foi tempo de reflexão, pedidos de desculpas, introspecção em seu nível máximo.
Os erros e os acertos brotavam das lembranças e, junto, os medos tão atuais de errar de novo, ou, ainda, as certezas tão reais de não querer errar mais.
Não obstante toda essa introspecção, exigiu de mim, ainda, alguma ação. Abrir mão de caprichos, revisitar o passado e sorrir novamente pra lembranças de momentos que me fizeram tão bem e, principalmente, deixar de fato no passado, o que a ele pertence.

Sobre sermos como fios individuais.



Somos fios autônomos, cada um de seu novelo. 

Ao longo da vida, no emaranhamos com outros fios, atando e desatando nós.

Com o contato demasiado, tomamos algumas das características do outro, cores e até odores, mas nunca deixamos de ser um fio autônomo no universo de fios.

Essa compreensão é básica para sermos bons pais. Aceitar que nossos filhos possuem vidas independentes, com escolhas e destinos próprios, é algo que se assemelha à conhecida máxima de "educar filhos para o mundo".

Quando nos unimos a alguém, tendemos a cometer um erro grotesco: deixamos de lado nosso próprio destino para traçar um destino comum.

Nos confundimos facilmente. O mais estável e desejável seria olharmos juntos para a mesma direção, focando cada um em seu próprio destino, ao mesmo tempo em que mantemos a referência no outro para que não nos percamos na longa jornada. Ao invés disso, a sociedade nos impinge à criação de um ser abstrato que exige toda a atenção individual dos envolvidos: o casal. 

Ser uma só carne, como ensina a igreja. Abster-se de si para que o casal se fortaleça, como ensinam as histórias de amor. O problema é que o romantismo é lindo e aconchegante, mas a realidade é mortal.

A verdade é que não existe esse ser abstrato que se pretende corporificar, o “casal”. 

Existem, sim, duas pessoas autônomas, individuais que, compreendendo suas idiossincrasias, suas necessidades pessoais, aceitando que as dificuldades e máculas do outro são versões das suas próprias, decidem dar as mãos para chegarem ao – aqui existe um outro ponto de atenção – destino de cada um, individualmente. Dar as mãos, inclusive, pode ser melindroso, à medida em que um pode pesar para o outro. As mãos devem ser referência, devem ser toque suave a lembrança segura do caminho reto em momentos de perdição e fraqueza.

O destino individual exige a premissa de que o casal como sujeito não existe e, portanto, não possui destino próprio. Engloba-se aqui o conceito de família.

É imprescindível que se entenda que cada um tem suas metas e seus ideias; suas sombras a enfrentar e suas portas a encarar; seus méritos a colher e suas vidas a viver; sonhos a concretizar e desafios a vencer.

Quando alimentamos tão somente esse ser intangível, o casal, deixamos de alimentar a nós mesmos. Deixarmos de ser quem somos não é apenas incômodo; é suicídio.

Toda essa teoria fica acessível ao pensarmos na família extensa. Cada um cuida de sua vida, seguindo os ensinamentos dos antepassados. Não se tem, então, um destino único para a família, mas uma trajetória para cada ente. 

O apego e as relações mais íntimas no casal e na família nuclear deturpam essa realidade com o excesso de aproximação e, principalmente, com o romantismo criado como força reagente ao mundo individualista e autofágico.

É necessário que nos compreendamos e nos aceitemos como indivíduos. Que identifiquemos quem somos (a comida que preferimos, a cor que nos acalma, a música que nos purifica, as sensações que nos agradam). É necessário nos reconhecermos por nós mesmos para que possamos ressignificar nossas relações com o outro e também conosco e, assim, ressuscitemos a nós mesmos dentro de nossas próprias vidas. 

todaflor

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Escrevi uma carta e entreguei. Sim, escrevi. E sim, entreguei. Para todos nós, que dançamos com as palavras, nada mais natural que escrever e guardar, escrever e arquivar, escrever e apagar. Dessa vez, escrevi e entreguei.
Eu não sabia ao certo o quanto precisava daquela janela, o quanto abri-la me aliviaria.

Desde meu derradeiro encontro comigo mesma, em meditação consciente com meu mais puro eu, tenho refletido sobre os reflexos de minhas decisões. Percebi que ainda hoje arrasto muito do meu passado, mas ainda não havia analisado minuciosamente minha parte da culpa. Comecei, então, no meu primeiro divórcio.

Culpados não existiram. Havíamos responsabilizado a incompatibilidade de gênios, a diferença do ritmo e de interesses. Mesmo a idade certamente havia contribuído. No meu entender, se algum de nós foi responsável, haveria de ser ele, por não corresponder às minhas necessidades, que eram básicas.

Dessa vez, contudo, a reflexão foi extraordinária. Os caminhos eram convexos e insistiam em parar no meu rosto cansado, apático. Eu estava esgotada e desisti.

Desistindo, eu sofria internamente com minha falta de honestidade, de companheirismo, de verdade. Faltou-me cumprir o que prometi. Mas o que prometi, a final? Rememorei meus votos. Ser fiel e respeitá-lo. Amá-lo hoje mais que ontem e amanhã, mais que hoje. Mas não o fiz.

Durante meus momentos de autoflagelamento, eu repetia os votos. Fui percebendo que, embora as palavras tivessem força, eu, ou melhor, nós, não sabíamos do que se tratavam. Nós não sabíamos o que era um casamento. Nós não sabíamos o que era o cuidado com os filhos. Nós não sabíamos o que era a decepção do não ser o que tinha tudo para vir a ser. Nós não sabíamos o que era a falta de admiração nem a responsabilidade de ambos, cada um ao seu modo, de manter o fogo do interesse. Nós não sabíamos de nada disso. Como poderíamos ser cobrados de nossas promessas vãs?

Ao mesmo tempo, assim como a lei, o desconhecimento de todo o peso da palavra não poderia ser alegado para eximir-nos de seu cumprimento. Eu deveria ter, então, insistido por toda a minha vida? Eu deveria ter mantido minha palavra, sob o afã da infelicidade? E ele? Ele, embora amasse, também não era feliz comigo, principalmente porque não era amado como merecia. Foi então que compreendi o poder do consentimento, ainda que tardio.

Durante esses quase dez anos que se passaram, ele encontrou uma nova pessoa com quem pôde conhecer o verdadeiro amor entre duas pessoas. Eu sempre fiquei demasiado feliz com isso, mas não entendia porquê a união dele com a atual esposa me fazia tão verdadeiramente bem.

Nesse momento, pensando por todos os ângulos possíveis, entendi que fiz o certo. Busquei a minha felicidade, permitindo que ele encontrasse a dele. Mais que isso, me senti grata por tudo.

Escrevi.

Agradeci, inclusive, por ele estar feliz com a nova família. Reconheci meu erro por ter desistido de nós. Mandei a cara, por email.

Menos de uma hora depois, uma resposta. Uma não-pedida resposta.

Havia um reconhecimento e uma gratidão mútua. Havia um peso a menos no meu peito, em toda a minha vida, daqui para frente.