sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Eu Quero Enfeitar Você

Vanessa da Mata
Composição: Liminha e Vanessa da Mata

Eu não quero este poder
Toma ele pra você
Eu só quero cantar, gozar e
Gastar da vida

Eu só quero um cafuné
Um cobertor de orelha fixo
Neste inverno tão rígido
Fingir que acredito em você

Eu quero enfeitar você

Eu só quero me perder
Eu não quero este poder
Chamar o sapo de príncipe
Comer você de manhã

E quando tudo parecer
Que está quase perdido
Que foi quase esquecido
Que não é mais minha maçã
Eu quero enfeitar você

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"(...) iam ser escritores, com uma determinação tão obstinada como se exprimir a alma a suprimisse enfim. E se não exprimisse, seria um modo de só saber que se mente na solidão do próprio coração."

- Clarice Lispector, Felicidade Clandestina, A Mensagem -

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Bailarina E O Soldado De Chumbo - O Teatro Mágico (música)


De repente toda mágica se acabou
E na nossa casinha apertada
Tá faltando graça e tá sobrando espaço
Tô sobrando num sobrado sem ventilador

Vai dizer que nossas preces não alcançaram o céu?
Coração, que ainda vem me perguntar o que aconteceu
Conta se seu rosto por acaso ainda tem o gosto meu

Com duas conchas nas mãos,
Vem vestida de ouro e poeira
Falando de um jeito maneira
Da lua, da estrela e de um certo mal
Que agora acompanha teu dia
E pra minha poesia é o ponto final
É o ponto em que recomeço,
Recanto e despeço da magia que balança o mundo

Bailarina, soldado de chumbo
Bailarina, soldado de chumbo
Beijo e dor...
Bailarina, soldado de chumbo

Nossa casinha pequena
Parece vazia sem o teu balé
Sem teu café requentado
Soldado de chumbo não fica de pé

Nossa casinha vazia
Parece pequena sem o teu balé
Sem teu café requentado
Soldado de chumbo não fica de pé

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ponto de vida...



O peito já não é o mesmo, nem tampouco as explosões outrora tão comuns dentro dele.

Perguntamos o que aconteceu e a resposta, embora demore, parece simples, mas é complexa: "O amor acabou", dizem. Não, não é verdade. O amor não acabou. "Acabou a paixão", retorquem. "Restou o amor verdadeiro que mantém o relacionamento. Ou não resta nem um nem o outro. Assim é. Assim deve ser",

A paixão... essa é dispensável. É a fúria da natureza humana. O pecado, a expiação (...)

O que somos? Humanos. Simplesmente humanos. (...)

Nao... somo mais... Demasiadamente humanos(...)

A paixão é necesária. É parte, é o gozo da natureza humana. O doce, a pureza e a nudez. A dor, o abismo e o sublime prazer fugaz. Tal como a vida.

A sociedade informa: ela sempre acaba. Ela sempre nos acaba.

A sociedade indaga e afirma: Permaneceremos à deriva desse sentimento louco e instável? Que sobreviva o amor e os relacionamentos e que seja a paixão crucificada!

Mas...

Não! Que seja ela toda sacrificada em prol da democracia!

Mas...

Não me venha com suas idéias! Aniquilemos essa semente de tantos desvarios, de tanta tristeza e insegurança!

Mas... Me repudie se quiser, me arremessando pra além de sua vizinhança (ou me ampare, para aquém de sua casa)... me deixe junto com a paixão, à margem do resto viciado pelo preconceito... Mas escute... Talvez...

Talvez a questão deva mudar seu foco...

Talvez o diagrama não seja a relação com amor e paixão, nem tampouco sem paixão.

Talvez devam prevalecer, respeitando-se uns aos outros, o amor, a paixão e a relação, cada um em seu lugar, sem miscigenações, apartados como devem ser sentimentos e realidades tão diversas.

Misticismo, idealismo, estabilidade, ardor e cheiro forte e sedento não combinam.

Manter, sob um mesmo peito, tudo isso é impossível.

Escolher é injusto.

Deixemos.

Vivamos.

Apartados.

Amor, respeito, fraternidade, querer-bem.

Gemidos, sangue, sussurro e suor.

Indivíduo, casa, trabalho, vida.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

SONHO DE UMA FLAUTA - O Teatro Mágico (Música)

Nem toda palavra é

Aquilo que o dicionário diz
Nem todo pedaço de pedra
Se parece com tijolo ou com pedra de giz
Avião parece passarinho
Que não sabe bater asa
Passarinho voando longe
Parece borboleta que fugiu de casa
Borboleta parece flor
Que o vento tirou pra dançar
Flor parece a gente
Pois somos semente do que ainda virá
A gente parece formiga
Lá de cima do avião
O céu parece um chão de areia
Parece descanso pra minha oração
A nuvem parece fumaça
Tem gente que acha que ela é algodão
Algodão as vezes é doce
Mas as vezes né doce não
Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
O dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar

Hum... E o mundo é perfeito
Hum... E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito

Eu não pareço meu pai
Nem pareço com meu irmão
Sei que toda mãe é santa
Sei que incerteza traz inspiração
Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso
Tem riso que parece choro
Tem choro que é por alegria
Tem dia que parece noite
E a tristeza parece poesia
Tem motivo pra viver de novo
Tem o novo que quer ter motivo
Tem aquele que parece feio
Mas o Coração diz que é o mais Bonito
Descobrir o verdadeiro sentido das coisas
É querer saber demais
Querer saber demais
Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
O dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Mas sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar

E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito...


Ps.: aos interessados:
http://www.rubedo.psc.br/Artlivro/soflauta.htm
http://recantodasletras.uol.com.br/audios/contos/13453
vale MUITO a pena!

Seção 32 - Vander Lee

Nem todo fim tem começo
Nem tudo que é bom tem seu preço
Nem tudo que tenho mereço
Nem tudo que brota é do chão
Nem todo rei tem seu trono
Nem todo cão tem seu dono
Nem tudo que dorme tem sono
Nem toda regra, exceção
Nem tudo que morre é de fome
Nem tudo que mata, se come
Nem tudo q é dor me consome
Nem toda poesia, refrão
Nem todo carro tem freio
Nem toda partilha é ao meio
Nem toda festa é rodeio
Nem tudo que roda é pião
Nem toda obra se prima
Nem tudo que é pobre se rima
Nem tudo que é nobre se esgrima
Nem tudo que sobra é lixão
Nem tudo que fito é o que vejo
Nem tudo bonito eu almejo
Nem tudo que excita é desejo
Nem todo desejo é tesão
Nem tudo que ganho é o que valho
Nem tudo que jogo é baralho
Nem tudo que cansa é trabalho
Nem tudo que se dança é baião
É baião
Nem todo amor é em vão
Nem toda crença, ilusão
Nem todo Deus, comunhão
Nem todo pecado, perdão
Nem tudo que se dança é baião
Nem tudo que sobra é lixão
Nem toda poesia é refrão
Nem tudo que se dança é baião

by fulô: Mais uma... e... sim... fulô escuta musicas... raro, mas escuta...

No fundo, ela se setia perdida porque nunca havia se achado, se determinado. Sentia sempre um vazio seco, oco. Sentia que sua voz não era aquela, aquele corpo não era dela, nem seus pensamentos lhe pertenciam.

O que ela ainda não sabia, ainda que estivesse a um passo de saber, era que isso tudo não era fundo. Era raso, muito raso. A emergência do vazio era iminente e aconteceria antes mesmo dela se dar conta, já que não estava tão abaixo de seus pés quanto sentia.

Sim, sentia. Sim, estava enganada. Sua intuição a trapaceava pela primeira vez e ela, a intuição, gostava. Era bom, ao menos uma vez na vida - na sua e na dela - mentir.

Fazia esse trabalho com amor e fulgor, já que a rasteira estava sendo justificada pelos fins. A trapaça deixava de ser, aos olhos da intuição, vulgar, para ser amena, doce.

Num dia, não muito belo, talvez até comum, ela viu numa brecha da vida seu vazio emergindo a um milhão de quilômetros por hora, saltando como quando jorra o sangue pulsante pela carne viva cortada.

O coração batia inconsequente, forte demais, rápido demais, alto demais, impiedoso, dorido.

A respiração era confusa, lenta, veloz, atroz. Até que parou. A saliva desceu seca pela garganta.

O mundo deixou de ser mundo, só naquele momento. Virou palco quando apagam-se as luzes para a troca da cena.

E a cena que viria era estrondosa, rabugenta, glamurosa, escandalosa, esplendorosa. Viria pra marcar todo coração que por ventura estivesse ali.

Ela se sentou na cadeira bem no centro do auditório cheio de corpos e vazio de almas.

A respiração já se acalmara. O coração batia com brandura. O sangue corria com ternura nas veias frias sedentas por calor. A cena.

A primeira tragada torvou-a, com violência e impertinência comuns aos primeiros.

O gosto amargo do sangue gelado emudeceu seus sentimentos que gritavam.

Nao queria estar ali. Nao queria sair dali. Nao queria ficar ali, mas ali estava.

Sair correndo seria repetir o amargo, que seria então de rancor e culpa. Não, não desistiria. Permaneceria ali, sentada, custasse um dia, custasse sua pele. Era sua vida.

O palco se iluminou. A intuição surgiu e cambaleou. Também estava embriagada. Não tinha serventia.

Ela, horrorizada por sua amiga, a agarrou com suas mãos finas. Seu toque envolvente a aconchegou e fez cair sobre ela uma gota d 'água.

A intuição abriu seus olhos vermelhos cristalinos e sorriu. "Nunca te abandonei. Serei você, pra sempre!"
Desfaleceu, sublimou.
Com seus braços vazios, ela agora sentia.
Estava só, com a intuição em algum lugar de seu ser.
Precivam, dali, juntas em uma só, seguir. A direção era não importava, não fazia sentido.
Precisavam seguir. Precisava.

O palco desmoronou e restou o pó, que é o fim e o começo.

Ela não precisava de mais nada. Ela e o pó eram o mundo.
Ela e o pó eram a vida.

Ela e o pó. Agora.