segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Desejo de Sofrer

"Quando penso no desejo de fazer alguma coisa que afague e estimule incessantemente milhares de jovens europeus dos quais nenhum pode suportar nem o aborrecimento nem a si próprio – dou-me conta de que deve haver neles um desejo de sofrer, seja como for, a fim de extrair de seus sofrimentos uma razão provável de agir. O sofrimento lhes é necessário! Daí a gritaria dos políticos, daí as pretensas “crises sociais” de todas as classes imagináveis, tão numerosas como falsas, imaginárias, exageradas, e o cego ardor em acreditar nelas.

Essa geração geração jovem exige que seja de fora que lhe chegue ou se manifeste – não a felicidade – mas a infelicidade; e sua imaginação se ocupa de antemão em fazer dela um monstro, a fim de ter a seguir um monstro a combater. Se esses seres ávidos de sofrimento sentissem em si a força de fazer o bem em si mesmos, para eles mesmos, saberiam também criar para si próprios uma miséria própria e pessoal. Suas sensações poderiam então ser mais sutis e suas satisfações poderiam ressoar como uma música de qualidade. Ao passo que agora enchem o mundo com seus gritos de agonia e, por conseguinte, muitas vezes, em primeiro lugar, de seu sentimento de angústia! Não sabem fazer nada de si próprios – é por isso que rabiscam nos muros a infelicidade dos outros: sempre têm necessidade dos outros!

- Peço perdão, meus amigos, tive a ousadia de rabiscar no muro de minha felicidade."

A Gaia Ciência - F. Nietzsche

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... à querida Luz, que incompreende a auto-sabotagem...

3 comentários:

  1. Pois é, minha amiga, assim como vc e o sr. Nietzsche, compactuo do mesmo sentimento, e vou além...
    Esses mesmos jovens são frutos de uma sociedade desmantelada, onde o cerne que é a família, se existe, existe em um nível precário,
    acredito nisso e tenho esperança que o
    mundo acorde para esta realidade,

    Bjs, saudades Frô....

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  2. Miramos lá longe porque olhar para dentro machuca.

    Beijos!

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  3. A grande verdade é esta mesma: precisamos até mesmo de nossa própria infelicidade, de modo que não sejamos joguete das emoções alheias, para o "bem" ou para o "mal".
    Constatação necessária.
    :)

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