domingo, 14 de janeiro de 2018

Tento nao comecar esse texto com "não". Mas não é fácil. A negação está encrustrada na minha cabeça, como uma planta em simbiose, se alimentando da minha energia vital.

Eu queria, agora, estar sentada numa pedra na beira da praia, ouvindo as ondas quebrando e o céu, acima, dum azul que irradia, sendo nosso teto.

Queria ficar assim por horas, sentindo um cafuné e podendo agradecer simplesmente por estar viva, respirando, naquele lugar abençoado.

Eu queria pegar um clássico e devorar suas páginas sem preocupações maiores, saboreando a geniosidade de autores que me fazem me sentir bem só de perceber que o sol que o iluminou é o mesmo que me aquece.

Eu queria olhar pras nuvens se movimentando, talvez entendendo como funcionam suas moléculas, talvez imaginando o trajeto da chuva que cedo ou tarde nos molharia, talvez não pensando em absolutamente nada.

Eu queria olhar pros olhos que me olham e sorrir, amando o prazer de estarmos juntos, dividindo os mesmos sabores. Sentir juntos. Amar juntos. Regozijar juntos. Gozar juntos. Devanear juntos. Sonhar juntos. Realizar juntos. Viver juntos.
 
Mas acontece que estou com minha atenção voltada pra realizar um sonho que não tenho, por pessoas que não sou eu, fazendo o que não amo, porque vivo nesse mundo e não tenho opção.

E os olhos que eu queria que estivessem me olhando, para que olhássemos juntos pro mesmo rumo, procura por alguém socialmente "correta", que segue todos os padrões "corretos", que tem pensamentos "corretos" e que, talvez, o faça "corretamente" feliz.

Fazer o outro feliz e ser felizes juntos são coisas totalmente diferentes. Mas um dia se aprende. Eu mesma demorei e nem sei se aprendi, mesmo.

Mas é vida que segue.

E meus quereres permanecerão inertes, porque sim.

(10/17)

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