quarta-feira, 31 de março de 2010

Ana e as nuvens




A janela foi aberta pelas mãos cheias de dedos finos e firmes.

O céu confirmou suas expectativas: continuava lá em cima.
O amarelo-mostarda-mel-cintilante era aconchegante.
Ratificava que estava tudo onde deveria estar.
A nuvem se aproximava e Ana sentia seu cheiro.
Cheiro de doce, de chuva e de mato.
Cheiro de lençol lavado, de edredon com resto de perfume,
com resto de suor.

Há muito não via aquela nuvem.
Sentia não só falta, mas também saudades.
Gostava de quando ela chegava e a envolvia e, enfumaçada,
ocupava todo o seu quarto.
Ana sorriu.
A nuvem volitava em sua direção, como se reconhecesse um dono.
Ana sentiu o peito parar.
Sabia que seria novamente envolta por ela.
Sabia que sublimariam, Ana e a Nuvem, cada qual ao seu modo.
E que novamente poderiam nunca mais se ver.
Ana sorriu.
A nuvem entrou.
Envolveu-a.
Sublimou.

A janela foi aberta pelas mãos cheias de dedos finos e firmes.
O céu confirmou suas expectativas: continuava lá em cima.
O amarelo-mostarda-mel-cintilante era aconchegante.
Ratificava que estava tudo onde deveria estar.
Uma nuvem se aproximava e Ana sentia seu cheiro.
Cheiro de acre, de mar e de sol.
Cheiro de roupa limpa, de flores penduradas.
Ana sorriu.

(frô)


(http://mosaicos-cida.blogspot.com/2009_12_01_archive.html)

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