domingo, 28 de março de 2010


Ao sentir a aproximação onírica de José, Ana cerrou suas asas, protegendo-se
como uma concha. O amor de José batia forte, mas a fortaleza anírica permaneceu firme.
Ana fechava seus olhos e ouvidos; preferia não escutar as batidas
do coração dele, mas quanto mais selados ficavam os ouvidos, mais percebia
Ana que as estrondosas batidas vinham de seu própio interior.
José, que por um momento engolira a vergonha da exposição, ruboresceu pela reação de Ana.
Sentia-se decepcionado. Esperava que ela saísse da concha, mostrasse sua pérola.
Ana se protegia, contudo. Não se deixaria levar.
José, hesitante, cerrou os olhos e conversou com Deus. Queria motivos, queria
conselhos, queria ao menos ter a certeza de que era essa a sina.
"Sina, sina, sina", ecoou Deus, com sua voz rouca e doce.
"Faça-a! Ama!"
O eco se fez novamente
"Ama, ama, ama, ana..."
Mas José só queria amar se fosse amado.
A Voz de Deus fazia tremer todo o seu Universo,
e já que pedira ajuda, José resolveu. José amou.
Amou Ana sem esperar a reciprocidade mundana.
Amou Ana sem esperar sequer um pensamento em troca.
Amou Ana gratuitamente, Ana toda, Amou completamente.
Amou Ana eternamente, sem medo de um dia virar pó.
José sussurrava por entre suas asas o quanto a amava.
José descrevia todas as manhãs quão lindo o céu estava.
José orava por Ana, cantava para ela e a acariciava.
E por mais que Ana se fechasse, as partículas de amor transcendiam suas asas
e a atingiam suavemente.

E Ana vivia.

E Ana ouvia.
E Ana sentia.
E Ana queria.
E Ana amava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário